Com 13 escolas participantes, o evento celebra a criatividade, a integridade e o protagonismo juvenil, levando das salas de aula ao tapete vermelho histórias contadas pelos próprios alunos da rede pública do DF
Luz, câmera, ação! Com balde de pipoca em mãos e muita expectativa no ar, estudantes da rede pública do Distrito Federal tomaram conta das poltronas do Cine Brasília para viver uma experiência digna de tapete vermelho: assistir aos curtas que eles mesmos idealizaram e produziram.
A programação faz parte do “Festival Na Moral de Curtas-metragens: Ética em Cena, Integridade e Transformação em Ação”, uma iniciativa que transforma a sala de aula em set de filmagem e os alunos em roteiristas, atores, diretores e espectadores de suas próprias histórias. Ao todo, 13 escolas públicas participaram desta edição, e cerca de 420 estudantes do Ensino Médio e 28 professores estiveram presentes no tradicional cinema da capital federal.

Logo na entrada, o clima de estreia já estava no ar. Cada estudante recebeu um kit com pote de pipoca e copo com canudo, entrando no cinema como verdadeiras estrelas de uma grande première. Para abrir a sessão, uma apresentação especial animou a plateia: alguém caracterizado como Charlie Chaplin deu as boas-vindas ao público, arrancando sorrisos e aplausos. Após, foi formado o dispositivo de honra, com a promotora de justiça e coordenadora do Projeto Na Moral, Luciana Asper; o secretário de Cultura do DF, Claudio Abrantes; os subsecretários de Estado da Educação do DF, Francisco das Chagas e Iedes Braga; o secretário executivo de Segurança Pública do DF, Alexandre Patury; além de representantes do Sebrae e da Receita Federal.
De repente, as luzes se apagaram, e as histórias se acenderam na tela. Os curtas exibidos trouxeram reflexões sobre ética, integridade, cidadania e os desafios do nosso tempo, revelando talentos, narrativas e olhares únicos dos estudantes sobre a realidade em que vivem.
Foram apresentados os curtas “A fome no Brasil”, “A corrida pelo açúcar”, “Nicolas, nosso herói” e “Todos os olhares para Welckson”, todos do Centro de Ensino Médio Integrado do Gama (CEMI Gama); “Verdades pelas frestas”, “Coração partido, janela quebrada” e “Uma janela quebrada”, do Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria (CEM 404); “É na moral”, do Centro Educacional 08 do Gama (CED 08 Gama); “Uma vida pode caber em um gesto” e “Empatia”, do Centro Educacional Jardins Mangueiral (CED Jardins Mangueiral); e “A decisão é sua”, do Centro Educacional Agrourbano Ipê (CED Agrourbano Ipê).
Mais do que assistir, os estudantes puderam se ver representados no cinema e reconhecer o poder das próprias vozes na construção de um mundo melhor. Cada história projetada na tela revelou a força das experiências vividas dentro e fora da escola, traduzidas em emoção, reflexão e esperança. “Ver o nosso curta na tela do Cine Brasília foi emocionante: dá orgulho e um sentimento de pertencimento. Estar aqui mostra que a educação pode nos levar a lugares grandes, e isso nos enche de esperança para transformar o futuro”, disse Arthur Mota Souza, 17 anos, estudante do 2º ano do ensino médio do CEMI.

Segundo a promotora de justiça Luciana Asper, coordenadora do Projeto Na Moral, a iniciativa busca chegar ao coração de professores, jovens e adolescentes, entendendo o que os atrai e engaja de verdade. “O Festival de Cinema na Moral nasce do intuito de oferecer aos estudantes um espaço para usar criatividade, dons e talentos em algo que faça sentido, que os inspire a expressar como a integridade pode ser a chave para uma sociedade mais próspera”, explica.
A professora de filosofia do Cemi, Rosana Vieira, conta que o Programa Na Moral é, acima de tudo, um projeto impulsionado pelos próprios estudantes. Ela explica que o envolvimento dos alunos começa desde a escolha dos temas até a produção final dos curtas. “Eles têm total autonomia: definem a pauta, escrevem os roteiros, gravam e editam. A nossa função é orientar e apoiar, mas o protagonismo é todo deles. Mesmo sendo um trabalho transversal, sem nota, eles abraçam a ideia com entusiasmo e dedicação. É bonito ver como se engajam de verdade”, afirma.
Intercâmbio de experiências
O festival busca, ainda, estimular o protagonismo juvenil, a criatividade e a reflexão crítica, fortalecendo vínculos entre escola e comunidade. A proposta é mostrar que cinema também pode nascer nos corredores escolares e, com uma boa ideia e espírito de equipe, chegar às telonas.
Essa experiência foi ampliada com a presença de estudantes do Ensino Fundamental, que foram convidados para assistir a parte da programação e conhecer de perto como funciona o festival, em um verdadeiro intercâmbio entre diferentes etapas da educação. Entre as escolas convidadas, esteve o Centro de Ensino Fundamental ..., que participou com turmas do 9º ano.
O professor [nome do professor] destaca que esse contato direto com o projeto ajuda a despertar nos mais jovens o interesse por novas formas de expressão e participação. “Eles voltam para a escola com brilho nos olhos, cheios de ideias e vontade de fazer parte. É uma oportunidade de mostrar que eles também podem criar, produzir e ocupar esses espaços”, explica.
Premiação
A noite também foi de premiação para os talentos que brilharam na telona. Os curtas “Empatia”, “É NaMoral” e “A decisão é sua” foram os grandes vencedores da mostra e levaram os troféus nas categorias principais. Além disso, a plateia teve voz ativa: o curta “A fome no Brasil” conquistou o prêmio de Votação Popular, eleito pelos próprios estudantes com quase 3 mil votos.
Os holofotes também se voltaram para o desempenho dos jovens artistas, com a entrega dos prêmios de Melhor Ator e Melhor Atriz, celebrando a força das narrativas interpretadas pelos alunos da rede pública. Foram premiados os atores Arthur Mota Souza, pelo filme “Nicolas, nosso herói” e Ana Laura, pelo filme “Empatia”.
A promotora de justiça Fernanda Molyna explica que a premiação é uma forma de valorizar o envolvimento e o protagonismo dos estudantes no projeto. “A partir do momento em que eles refletem e externalizam uma temática, isso tem uma capacidade muito maior de gerar transformação, tanto no aluno quanto na comunidade escolar. Esse festival de curtas estimula o estudante e, ao mesmo tempo, permite que ele veja que o seu trabalho gera frutos reais. É uma grande alegria estar aqui e presenciar esse espetáculo vivido por tantos alunos da nossa rede pública”, afirma.
Para tornar o momento ainda mais especial, foram distribuídos cerca de R$ 80 mil em prêmios, provenientes de objetos retidos pela Receita Federal do Brasil, um gesto que reforça o incentivo à arte, à criatividade e à formação cidadã por meio do cinema.
Formação cidadã
O NaMoral dissemina valores relacionados à integridade, à ética, à cidadania e ao enfrentamento à corrupção. O projeto-piloto foi implementado em nove escolas públicas do DF em 2019 e desafiou os jovens, a partir de ferramentas de gamificação, a construir um ecossistema de integridade. Em 2024, a iniciativa atingiu 58 instituições de ensino público e mais de 20 mil alunos. Em 2025, 73 instituições de ensino passaram a adotar o programa.
Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui.