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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Existem poucas coisas mais decepcionantes do que ouvir um velho falando um monte de asneira. O aspecto exterior do velho insinua a gravidade da sabedoria. A brancura dos cabelos aponta para o conhecimento. Rugas são experiência. Flacidez muscular, educação, sensatez. Até um cheiro ruim pode significar, quem sabe, personalidade. Uma pausa mais longa na conversação sinaliza uma reflexão profunda e copiosa, de quem sabe muito bem o que diz.

Idade reflete o outono da vida, o final da tarde dos dias -- que é exatamente o período em que a coruja bate as asas em voo. A coruja, sabemos, é o animal-símbolo da sabedoria, por causa de seus olhos pasmados, que veem e enxergam. Mas não estou me referindo à decrepitude, à "insanabilis morbus" onde o inverno já é rigoroso demais, e a irreversibilidade do cansaço oprime como oprime uma prisão.

Do novo espera-se impetuosidade, volatilidade, paixões. Não que seja a época em que o sujeito tenha o "direito" de errar - o "errar é humano" é uma constatação, não um salvo-conduto ético --, mas os seus muitos erros são previsíveis e vários deles são compreensíveis, senão facilmente desculpáveis. Não é difícil perdoar a ranhetice blasé do adolescente, para quem está tudo sempre ruim. Espera-se que os jovens sejam jovens, e se não falassem alto, fizessem besteira e transpirassem imaturidade, não seriam o que são. Seriam outra coisa. Seriam Rimbaud e La Boétie.

Achamos que o personagem diz mais da pessoa do que esta realmente é. É por isso que estranhamos quando vemos um religioso dirigindo automóvel, na fila do banco, nas compras. Fumando! Tudo isso parece mundano demais, incompatível com a sisudez absoluta da batina e as pregações recheadas de anjos e santos. Um palavrão não reprimido pela Madre Superiora, ao dar uma topada no dedo mindinho, não é algo tão incômodo como o seria se proferido por um operário da construção civil.

Mas nada supera a máscara do velho idiota, que não aprendeu nada e não entendeu nada.

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