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Ivaldo Lemos Júnior
Promotor de Justiça do MPDFT

O que vemos com nossos olhos não são coisas, simplesmente. Não são um amontoado mais ou menos coerente de objetos visíveis que se apresentam diante de nós (aqueles que são cegos ou que padecem de sérias restrições óticas têm naturalmente mais dificuldade de apreensão da realidade, ainda que desenvolvam outras sensibilidades).

Abro a janela e me deparo com nenhuma movimentação de ônibus, e o que digo para mim mesmo ou para a minha mulher não é: "não vejo ônibus", e sim "a rua está pouco movimentada", ou "a greve não deve ter terminado". Ou ainda: "a empregada não vem hoje". Ou senão: "vou chegar atrasado no serviço porque vou pegar a a-dias em casa e trazê-la para cá".

Desde logo há uma distância entre o "não vejo ônibus", que pode ser um juízo de fato absolutamente verídico, e o "a rua está pouco movimentada". Este último juízo não expressa um fato, mas um valor, ou seja, um julgamento, uma avaliação. O pouco movimento é uma estimativa minha, uma percepção pessoal que pode ou não coincidir com outras percepções, exatamente porque todas são pessoais, e há espaço para discordâncias.

Por raciocínios e conexões muito rápidos e quase que automáticos (intuitivos), passo sem perceber de um juízo de fato a outro de julgamento, e sem querer começo a elaborá-lo ainda mais, achando ótimo que a rua esteja vazia, o que me permite dirigir com mais fluência para o trabalho ou, ao contrário, sentindo-me contrariado com a idéia de buscar a empregada em sua casa. Daí a pouco, já estou a fazer outros cálculos que, embora mais profundos, não costumam durar mais que uns poucos segundos, uns pouquíssimos minutos.

Verdade é a comunicação rigorosa da realidade (essa é a definição clássica da Escolástica). Para que a verdade circule com precisão, é necessário que (1) o juízo de fato seja efetivamente acurado, e que (2) haja uma separação consciente e adequada entre este e a minha opinião particular sobre si.

Jornal de Brasília

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