Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Goiás e Distrito Federal: proximidade que não gera identidade - 1ª Parte

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Inácio Pereira Neves Filho
Promotor de Justiça do MPDFT

Há dez anos morando em Brasília, pude observar que pouca identidade existe entre Goiás e o Distrito Federal, mesmo estando as capitais tão próximas. Refiro-me nesta primeira abordagem ao campo político, desde o compromisso do candidato à consciência e engajamento do eleitor no processo eleitoral.

Em Goiás, apesar da indesejável prática de aliciamento, existe uma certa identidade entre o eleitor e o candidato - uma afinidade entre quem vota e quem é votado. No Distrito Federal, o envolvimento do eleitor ocorre por outros motivos que não a identidade ou afinidade com o candidato.

Na capital federal, a elite pouco se importa com a vida política e administrativa, comportando-se como uma classe que se julga não afetada pelas decisões do executivo e legislativo local. Essa indiferença está relacionada à boa qualidade de vida que essa classe possui, uma vez que, por auferir bons salários, reside em sua maioria na região central (Plano Piloto), em cuja localidade dispõe de razoável estrutura de benefícios e equipamentos públicos. A classe de baixa renda, de igual forma, pouco participa de modo consciente da vida pública. Isso ocorre principalmente devido à política clientelista implantada por grupos políticos que aninharam em Brasília a partir de 1988, quando o DF adquiriu autonomia política. Ao longo desses 22 anos, esses grupos impuseram à capital da república a cultura da doação irregular de lotes, pão e leite, conivência com as invasões de áreas públicas; enfim, uma prática política totalmente nefasta e na contramão de um estado moderno e eficiente.

Na eleição majoritária, é notável a diferença entre os candidatos de Goiás e os de Brasília. Aqui, os candidatos - com suas qualidades e defeitos - conseguem transmitir ao eleitor a idéia de que tem compromisso com o estado e com o povo. Em que pese também existir a política do clientelismo, essa prática abominável situa-se em plano secundário, sobressaindo grau maior de consciência e de confiança na relação eleitor-candidato. Isso talvez se explique em razão do vínculo que os candidatos de Goiás possuem com o estado, já que normalmente são pessoas que aqui nasceram - como é o caso dos atuais candidatos a governador.

Em Brasília a relação é diferente. Desde sua emancipação política, o DF vem sendo administrado por pessoas que não tem com a capital da república vínculo suficiente capaz de gerar identidade entre o governador e a população. Veja a situação eleitoral de 2010. Em Goiás, afora as paixões políticas, as imperfeições e o estilo de cada candidato a governador, ninguém pode afirmar que o estado estará mal conduzido com a eleição de qualquer dos atuais pré-candidatos. No Distrito Federal, a menos de cinco meses das eleições, a população não tem a menor idéia de quais serão os candidatos a governador, suas reais chances de se elegerem, e se estes estão aptos a realizarem uma boa administração.

Atualmente reina em Brasília total instabilidade no quadro político-administrativo-eleitoral, podendo ser eleito governador pessoa totalmente desconhecida e descompromissada com a população. Essa situação não é resultante apenas dos escândalos da "operação caixa de pandora" que derrubou o ex-governador Arruda. Tem sim - por paradoxal que seja por se tratar de sede do governo federal - muito a ver com a desqualificação da maioria dos políticos locais e com o desrespeito destes para com o eleitor. Some-se a isso dois ingredientes em Brasília: 1) a população esclarecida peca por sua apatia quanto aos rumos da cidade, deixando, por pura omissão, de exercer legitimamente a plena cidadania. 2) A camada de baixa renda, por figurar como "massa de manobra", não tem consciência política necessária para perceber que as benesses e os favores que recebem dos políticos, não só não a promove social e culturalmente, como contribui para a deformação endêmica do governo da capital federal.

Certo é que a proximidade geográfica das duas capitais não pode ser motivo para que tão deplorável cultura política seja adotada em nosso estado. A identidade salutar que se almeja que ocorra entre Goiás e o Distrito Federal diz respeito ao cumprimento das regras do processo eleitoral. Daqui até as eleições de outubro é uma boa oportunidade para os candidatos de Goiás darem o exemplo necessário. Nós - os eleitores e a democracia - desde já, agradecemos.

Diário da Manhã/GO

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