Fabiana Costa Oliveira Barreto
Promotora de justiça, conselheira do CNMP, e presidente da Comissão de Prevenção e Combate ao Feminicídio do MPDFT
O feminicídio, forma mais cruel e injustificável da violência contra a mulher, é o resultado de um ciclo opressor que muitas vezes começa de modo silencioso — ciúmes excessivos, isolamento social, controle financeiro e agressões verbais — e evolui até o crime letal. Os números alarmantes de casos no país decorrem de múltiplos fatores: o medo das vítimas de denunciar, a falta de acesso à informação sobre mecanismos de proteção e a omissão de pessoas próximas, que presenciam a violência e não intervêm. Não há dúvidas de que esses elementos contribuem para a a perpetuação do ciclo da violência doméstica e para os desfechos trágicos.
No Distrito Federal, os números revelam a gravidade: cerca de 70% das mulheres vítimas de feminicídio nunca haviam registrado ocorrência, embora muitas já tivessem sofrido agressões. Esse silêncio expõe o medo, mas também a ausência de confiança no acolhimento e na proteção. Diante disso, a Comissão de Prevenção e Combate ao Feminicídio do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios defende campanhas educativas permanentes, capazes de ultrapassar respostas pontuais a casos de repercussão. É preciso enraizar no cotidiano o esclarecimento de direitos, a quebra de mitos e o estímulo à denúncia.
Experiências comprovam que campanhas bem estruturadas unem vozes, ampliam o alcance da mensagem e transformam conhecimento em prevenção. Por isso a importância da campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher, que se realiza entre 20 de novembro e 10 de dezembro, no Brasil e em diversos países. Mais do que comunicação, campanhas permanentes são ferramentas de transformação. Cada vida preservada é prova de que a informação, quando aliada à consciência social, tem o poder de interromper trajetórias de dor e construir futuros diferentes.
Jornal de Brasília - 28/11/2025
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