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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Um autor famoso escreveu sobre a família e a acusou de ser “a causa da desigualdade social”, tão “endemicamente perversa” que precisava ser “pulverizada” para que houvesse a “revolução”. “Nos primórdios”, argumentou, os humanos viviam em hordas e cultivaram relações sexuais com “total liberdade”. O modelo societário era matriarcal, pois se desconhecia a noção da paternidade. Em certo momento, os machos exigiram fidelidade das fêmeas pela “força física” e passaram a tratá-las como propriedade privada.

Essas noções preliminares apresentam problemas. Em primeiro lugar, de quais homens “primitivos” se está a falar? Está-se recuando milhões de anos, até os Australopithecus, ou seu ponto de partida são hominídeos mais inteligentes? Talvez não seja preciso ir tão longe no passado e no espaço: 5 séculos atrás, portugueses atracaram nesta Ilha de Vera Cruz e se depararam com indivíduos que não sabiam construir navios transatlânticos. Mas será que intuíam que uma neném que nascia foi fruto de conjunção entre um homem e uma mulher, consumada umas 40 semanas antes?

A matriarcalidade dos tais “homens primitivos” é uma hipótese ancestral intrigante. Ora, bonobos são matriarcais mas chimpanzés não são, e aqueles vivem em um estilo bem mais sereno do que estes, porquanto machos, em geral, são agressivos, físicos, apreciam a luta do poder pelo poder. Acontece que essa investigação só tem importância se a linha do tempo homologar o elo perdido de Darwin, e assim fazer justiça evolutiva a todos os primatas superiores -- e disso nunca se teve certeza nenhuma. Mas “total liberdade”, essa é certeza: não há nem entre os pan paniscus.

Quanto à fidelidade, é fácil arriscar que não é corolário da força bruta e sim de uma estratégia reprodutiva benéfica para todos. Se o ingrediente principal tivesse sido o porrete, não teríamos chegado a 2023.

Jornal de Brasília - 1/11/2023

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