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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

A escultura que antropoformiza a Justiça, em frente ao STF, tem um aspecto um tanto peculiar. Em primeiro lugar, está sentada, o que pode dar um toque majestoso (embora o assento não seja um trono de luxo e sim um banco sem encosto em cima de um pedestal acanhado) ou então paciência e mais paciência.

Ela empunha uma espada, símbolo do domínio, da coragem, das ordens inconcussas; porém, com a ponta reta, a arma mais se parece com um cassetete. Ela jaz em seu colo, a mão canhota a tocar no fio, o que a cortaria se estivesse amolada, se servisse para o seu escopo derradeiro, que em hipótese alguma é a automutilação.

E cadê a balança, garantia de proporção e equilíbrio? Os pesos dos pratos são diferentes, a deusa é que os nivela na extração deliberada da medida da desigualdade entre os desiguais, mais do que na proclamação retórica da igualdade como um princípio de direito; julgar assim seria um trabalho de subsunção autômata e automática.

Já a venda, essa sim está lá, tapando os olhos sem dar azo à abertura de “brechas” na lei. Esse item não é usado porque a Justiça é cega, como usualmente se diz. Têmis não tem nenhum problema dessa natureza, talvez enxergue bem demais e se permite ir além das obviedades sensoriais. Nada de se deslumbrar pela beleza rútila de uma acusada como a Amber Heard diante de si, em vez de tentar espiar o seu comportamento – que está no passado e inacessível aos olhos --, se espancou o ex-marido ou se foi por ele agredida, se foi assaltada com uma garrafa ou se jogou uma garrafa nele e lhe cortou um pedaço do dedo, se recordar o passado é uma experiência pungente ou se ela consegue “cry on cue” em uma atuação meio canastrona.

Mas pungente mesmo seria achar que a Praça dos Três Poderes é um pátio dos milagres e a mulher de granito revelasse que era de sal acaso arrancasse a venda e olhasse para trás.

Jornal de Brasília - 13/7/2022

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