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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Kurt Cobain mostrou à mãe, Wendy, em primeira mão, a gravação daquela que seria sua música mais famosa, “Smells like Teen Spirit”. Ele prometeu tocá-la baixinho para não incomodar o padrasto, que assistia a um jogo na TV. Wendy mandou o filho aumentar o volume, escutou e estremeceu. Disse que aquilo iria “mudar tudo”. Temeu que o filho nem estivesse preparado.

Não sei se isso é totalmente verídico, se ela quis posar de visionária – num lance de profecia retroativa, como no Ovo da Serpente – ou se tentou bancar a mãezona apoiadora, fã número um. Afinal, o episódio foi revelado anos depois e, que seja do meu conhecimento, só por ela.

Kurt também desenhava, de modo diletante, e um autorretrato despretensioso, para dizer o mínimo, foi colocado a leilão e arrematado por 281.250 dólares (aliás, um cardigã dele, comprado em brechó por 10 dólares, com um botão a menos e uma mancha a mais, também foi adquirido em leilão, por 334.000. Uma guitarra saiu por 4.500.000).

Já a mãe do pintor Van Gogh achava os desenhos do filho uma bela porcaria. Ela sobreviveu a ele por muito tempo e tudo o que encontrou jogou fora. Visionária não era. Não adivinhou que, um século depois, desembolsariam 82.500.000 dólares por um quadro de Vincent e que várias outras obras ocupariam as paredes dos melhores museus do mundo.

Se fossem para o mercado meias sujas, cuecas e até o retrete de Kurt Cobain, que sucesso não seria. Comprariam uma caixa de charutos contendo relíquias pessoais, que jazia no local de sua morte. Comprariam até a espingarda empregada no disparo fatal. As pessoas querem ver sim todas as fotos de seu cadáver, tiradas pela polícia, querem seu All Star, seus óculos de sol, uma mecha, uma guimba. “Celebrity is never more admired than by the negligent”, disse Cleópatra a Antônio. Aumenta o som, Kurt, que até a mamãe quer tirar uma casquinha.

Jornal de Brasília - 29/6/2022

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