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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

É difícil dizer quem foi o astro do rock (do jazz também) mais drogado de todos os tempos. Essa medalha é disputadíssima, muitos morreram por ela em vão. Mas um palpite razoável é Kurt Cobain, do Nirvana.

 

Quando o mundo o conheceu, Kurt já era usuário contumaz, em especial, da atroz heroína. Há vários registros dele em estado deplorável, inclusive em shows. Consta que sofria de dores estomacais não diagnosticadas nem bem tratadas e resolveu tomar analgésicos à sua maneira (não sei se isso é desculpa ou a pura verdade). Nos momentos de sobriedade, o rapaz se mostrava sereno, articulado e bonito, embora quase sempre meio melancólico.

Cobain nunca demonstrou elã pelo sucesso, pelo dinheiro, pelo paparico. Preferia se apresentar em casas pequenas, não se importava com roupas, restaurantes ou hotéis bacanas, iates, modelos. Seu problema não era o tóxico nem a fama, que não passavam de antídotos de araque contra o maior de seus demônios: a depressão. E esta foi fruto direto da infância e juventude.

Seus pais se separaram em uma idade crítica (9 anos) e nenhum dos dois quis ou conseguiu ficar com ele. Kurt viveu com quem o acolhesse no afogadilho, parentes, amigos, uma família substituta, um professor. Era sistematicamente expulso e, nesse estribilho, dormiu debaixo da ponte, nas salas de espera de hospitais, em imóveis abandonados. Foi preso uma única vez, por pichar muros com spray: uma média excelente.

Resumindo, Kurt Cobain foi rejeitado por pessoas cujo papel primário em sua vida seria o exato oposto. Vinícius de Moraes poemou: “quem nunca amou não merece ser amado”. Mas a vida não é brincadeira, amigo. Por experiência própria, Cobain sabia que só é possível desenvolver a ferramenta do amor se se é amado antes. Senão, o que se forja são sucedâneos psicológicos que só fazem recrudescer o trauma e o tamanho do estrago.

Jornal de Brasília - 8/6/2022

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