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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Carlos de Melo, protagonista e narrador dos primeiros romances do “Ciclo da cana-de-açúcar”, de José Lins do Rêgo, teve a mãe morta pelo marido, pai dele. No espólio da tragédia familiar, o menino, então com quatro anos, foi morar com o avô em seu engenho no interior da Paraíba, num lance de viés autobiográfico do autor.

A infância foi solta, selvagem, precocemente lúbrica, com retardo no segmento dos estudos. Na sequência de sua história, Carlinhos viveu em um internato e se formou advogado. Anel de rubi no dedo, voltou para a asa do avô provecto (80 e tantos) mas ainda comandando o feudo com mão firme. 

Agora na pele do personagem de um jovem bacharel (ser chamado de “Doutor” era fruto de título semi-nobiliárquico que se tornou mais e mais fácil de comprar), o rapaz se deitou em cima do diploma. Nada fazia a não ser ler os jornais na rede do copiá. Se fosse hoje, o nhônhô ficaria vidrado no celular, gastando tempo precioso e irrecuperável. 

A chegada de uma parente distante, bonita e casada, mas sem o marido, não o ajudou em nada nos projetos profissionais que poderia tramar, nos quais se incluía alguma promotoria pública por aí. Uma oportunidade apareceu em Minas mas foi desperdiçada. Carlos ficou no engenho, assumiu por assumir sua direção com a morte do avô e não conseguiu produzir um pedaço de mandioca, até que as dívidas quase colocassem a escritura na hasta pública. Deus ex machina, o final foi feliz para ele, que não passava de um mandrião de marca maior. 

O autor, José Lins, foi promotor público brevemente. Não gostou da experiência. Preferiu atuar no fronte jornalismo/literatura. Deixou vários romances, na maioria bons ou ótimos. 

Como José Lins, outro escritor de truz, Monteiro Lobato, também foi promotor. E como Carlos de Melo, herdou terra do avô e se tornou fazendeiro. Cada um dos três colheu o que plantou.

Jornal de Brasília - 2/6/2021

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