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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Um dos pilares que tem sustentado o português brasileiro com alguma dignidade é o modo subjuntivo. Eis um honroso ponto de encontro entre a língua culta e a coloquial. Não que eu saiba, Se você tivesse vindo, Que eles estejam bem, Se nós não houvéssemos nos conhecido: essas são construções gramaticais perfeitas, fluentes, sem afetações nem pedantismos.

Quem parece ter sido relegado ao pedantismo foi a estrutura mesoclítica, hoje vista como algo com cheiro de mofo, de naftalina. Mesmo na escrita cerimoniosa, o estar-se-ia e o fa-lo-á foram sub-rogados por se estaria e o fará, com duvidosos ganhos em termos de sintaxe. Mesóclise combina com coisas obsoletas como bens parafernais, lanterninha de cinema e taxi girls. 

Dos seis pronomes pessoais retos, dois estão no corredor da morte, o tu e o vós. O desenganado “vosso”, que servia para ajeitar a vida dos seres humanos, foi trocado pelo gorduroso “de vocês”, e o “seu”, de “seu carro”, pode significar tanto “teu” (ou “de você”) quanto “dele”. 

A criação espontânea do “a gente” funciona como a primeira pessoa do plural mas se conjuga como a terceira do singular, uma confusão que serve como casca de banana a fazer escorregar até os bem instruídos. Dependendo do ambiente, tal erro é tão fatal ou pior que uma falha bisonha de concordância nominal.

Se nós soubéssemos que tu virias, teríamos comprado uma torta de café agoniza diante da variação Se a gente soubesse que você viria, a gente teria comprado uma torta de café – com o luxo porco de dobrar o “a gente” porque o “viria” também se conjuga com o você e talvez truncasse o sentido da frase, de pouca complexidade. 

Mas quem cometeu crime de alta traição vernacular foi uma das reformas ortográficas ao revogar o trema. Cinqüenta virou cinquenta mas continuou sendo pronunciado igual, embora pareça que é cinqenta, como na palavra “quente”.

Jornal de Brasília - 21/4/2021

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