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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Um homem, no Irã, renunciou por completo à prática do banho, há coisa de 60 anos. Tem a pele cascuda, suas mãos mais se parecem com patas e é óbvio que é de uma imundície que palavras não conseguem exprimir.

Não tenho informações detalhadas sobre a saúde desse indivíduo que, mal e porcamente, chegou à casa deslumbrante dos 80. Aliás, as informações aqui constantes foram sapeadas da internet e devem ser levadas a sério como se fossem verdadeiras.

Além do dado formidando da falta de banho, ele não tem residência – portanto, não “mora” nem mesmo em um sentido intransitivo –, não corta cabelo, fuma cachimbo com excrementos de animais, bebe água impotável (é lícito imaginar seu cuidado para não respingar na epiderme) e se alimenta apenas de carne suína. Este último aspecto mereceria ser estudado pela ciência para se verificar seu nível de fertilidade.

É verdade que dermatologistas não recomendam banhos de princesa, longos, mornos demais, amiudados, sem parcimônia nos produtos cosméticos. Isso prejudica a lubrificação natural do corpo.

Na época do racionamento de água, aqui mesmo na terrinha, não sei se vocês experimentaram tomar duches com uma jarra. Se sim, verificaram que, com 5 ou 6 litros, atinge-se o objetivo higiênico do ato. A primeira jarrada é para se molhar. Entre os molhos subsequentes, aplica-se sabonete, xampu e creme rinse em dosagens suficientes.

 

Afinal, o que se lava precipuamente são cabelos, axilas, centrais, onde os pelos mais se adensam. Mas também tem o rosto. Os pés. As mãos: a missão não terá sucesso se as mãos não estiverem limpas primeiro.

Onde quero chegar com tudo isso? Na literatura ficcional. Ler literatura ficcional faz para o bem estar intelectual o que o banho faz para o corpo. É possível viver na base do “banho tcheco”. É possível até viver sem. Mas viver com é muito, muito, mas muito melhor.

Jornal de Brasília - 14/4/2021

Os textos disponibilizados neste espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas. Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da instituição.

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