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Ivaldo Lemos Júnior
Promotor de Justiça do MPDFT

Para Mônica Aparecida Silva

"What's in a name"? ("o que há em um nome"?), pergunta a Romeu uma Julieta jovenzinha e apaixonada, mas muito esperta. Talvez um nome signifique muito.

Eu tenho um colega que se chama Georges Carlos Fredderico Moreira Seigneur. Vou repetir para provar que não foi erro de digitação. Georges Carlos Fredderico Moreira Seigneur. Confesso que seu nome me fascina. Não é qualquer cretino que tem o direito de se chamar assim. O prenome dá a opção de um Jorge gálico, sem o "s" e com o "r" bem forte, ou então o vernacular Georges, mesmo (pronuncia-se, nesse caso, Jeorges). O Carlos compõe um primeiro nome duplo, fazendo uma combinação inusitada e sutilmente áulica (Georges Carlos parece nome de hotel de pelo menos quatro estrelas). "Moreira Seigneur" fica reservado para quando o colega se tornar membro de Tribunal Superior: "relatará o acórdão o eminente ministro Moreira Seigneur" é uma frase que um dia as gerações dirão, na expectativa de que virá coisa boa por aí. Mas o Fredderico é imbatível. É patronímico, para quem não sabe. E seus dois 'd' mais parecem provocação; chegam a intimidar quem tem um banalíssimo Silva ou Santos como apelidos ("apelido", em direito, significa sobrenome), ou um feioso Bicudo ou Pacheco.

Outro nome que me agrada e muito é o de George Gaylord Simpson. O sujeito que tem um nome assim não pode se permitir abreviações: George Simpson, George G. Simpson ou G. G. Simpson desperdiçam todo o seu potencial sonoro. E não é só isso: não resta dúvida de que George Gaylord Simpson é considerado "o maior paleontólogo de vertebrados do século XX". O "paleontólogo" transmite um hálito científico de grave respeito, predicado de um grau de especialidade profunda e das mais relevantes: de vertebrados (aliás, seria um charme se ele entendesse pouco ou nada de invertebrados). Como George Gaylord Simpson morreu em 1984, passaram-se 16 anos até o final do século XX e não apareceu ninguém maior do que ele. E como o século XX já acabou há 8 anos, parece que o nosso herói ainda não foi superado, tanto que alguns acrescentam: "e talvez o maior de todos os tempos". Então ficamos assim, diante de um nome impossível de ser ignorado, e um ou dois títulos dos mais marcantes: George Gaylord Simpson, o maior paleontólogo de vertebrados do século XX e talvez o maior de todos os tempos.

Nem todos têm a sorte de terem nomes tão bonitos. Mesmo assim, muitos triunfaram na vida profissional. Aliomar Baleeiro, Hanemann Guimarães, Sepúlveda Pertence e - meu favorito - Orozimbo Nonato foram juizes da mais alta corte brasileira, o STF e, que eu saiba, desempenharam suas funções com competência.

Um dos maiores etnólogos da história foi um sujeito chamado Franz Boas. Ele teve como colegas de profissão Bronislaw Malinowski e Frederica de Laguna, a Freddy, que não ficaram muito atrás na obra científica e muito menos na feiúra do nome.

Chamava-se Ernst Schwarz o anatomista que primeiro defendeu que os pan paniscus (bonobos) deveriam ser catalogados como uma espécie diferente dos pan troglodytes (chimpanzés) - o que não se questiona mais. Ele defendeu também que existem três espécies de elefantes, e não duas, como se pensava em sua época. E estava certo de novo.

Tycho Brahe foi um estudioso que chegou à conclusão de que o Sol gira em torno da Terra e os planetas giram em torno do Sol. Ninguém acredita nisso hoje, mas Thyco foi o maior astrônomo do final do século XVI e está enterrado na Igreja Teyn, em Praga, uma das mais bonitas do mundo (não se tem falado em exumação e transferência dos restos para outro sítio).

Se você ler a expressão O Estagirita ou - honra de uma vez por todas insuperável - O Filósofo, pode ter certeza que estão falando de Aristóteles. Hipócrates é lembrado em todas as formaturas como O Pai da Medicina. Lembremos, porque não, do maior desportista de todos os tempos, que é conhecido pelo singelíssimo cognome Pele, que nem de longe chega aos pés de jogadores bons mas indiscutivelmente mais modestos, como Klinsmann, Laudrup e Van Nistelrooy.

P.S. Ainda não encerrei esse assunto. Um dia, falarei sobre meus colegas Thiago André Pierobom de Ávila e António Henrique Graciano Suxberger, e um tio da minha mulher, Edward Alfred John Whittingstall, o Uncle Ted.

Jornal de Brasília

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