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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Promotor de justiça que atua na área criminal faz acusações contra pessoas que cometeram crimes. Ou melhor, contra pessoas que ele entende que cometeram crimes. Esse “entende” é a palavra mais interessante da frase porque, intelectualmente falando, não passa de uma opinião precária e isolada, à qual se juntam outras, do delegado, do advogado e, por fim, do juiz e dos tribunais. O promotor pode alterar sua compreensão do processo e modificá-la diametralmente, pedindo a absolvição do réu que ele mesmo acusou.

Para tanto, o promotor precisa fazer algo importante: duvidar de si mesmo. No silêncio de seu gabinete, humildemente ele se pergunta se deve dar tanto crédito a tal testemunha, se o laudo pericial está tão consistente quanto parece, se o réu não tem razão quando disse isso ou aquilo. Colocar em xeque esse tipo de questão talvez seja um pouco doloroso, mas fará com o que o promotor enxergue o caso de maneira mais ampla e aguda, renove suas avaliações e reforce o que intuía ou reexamine pontos de vista que não tinha percebido. Se não fizer esses exercícios, agarrando-se a impressões açodadas ou, pior ainda, faltando com a verdade na frente do espelho, o promotor possivelmente será sacudido em suas pretensões por terceiros, aí com frustração ou até alguma dose de violência.

Na verdade, todas as pessoas devem se atormentar dessa maneira. Grandes santos têm seus momentos de insegurança, indagando-se se Deus realmente existe ou se não dedicaram suas vidas a algo fantasioso. Cientistas só ajudarão no progresso da humanidade se contestarem as próprias teses e as de seus pares. Admiradores de políticos ou artistas condenados precisam admitir a mínima chance da culpa, e não se fecharem teimosamente à hipótese contrária, como se tudo não passasse de um complô, de um golpe.

Jornal de Brasília - 2/1/2018

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