Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Medo do escuro

MPDFT

Menu
<

Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Há pelo menos cem milênios foram detectadas manifestações primitivas, porém induvidosas, de religiosidade. Tente entender como era essa época, mas não pela força de uma imaginação preconceituosa e mal informada. Procure de fato saber como eram os nossos ancestrais, em termos físicos, sociais, tecnológicos, dentre outros: além dos deuses que cultuavam, o tamanho de seus cérebros, os tipos de artefatos manipulavam, o que comiam, como interagiam entre si. Se possível, vamos desvendar a camada de tinta emocional na textura de suas existências. Por esse último desafio tenho particular predileção, e nele deposito uma gratidão que vai muito além do formato de meus dentes caninos.

Manifestações religiosas toscas não podem ser descartadas ou reduzidas em seu valor como achados arqueológicos ou antropológicos. Não são apenas "teses", pois revelam sobretudo uma necessidade que o humano tem de se situar no mundo. Religião não substitui outras formas simbólicas como, por exemplo, ciência ou arte. Pode haver denominadores comuns entre si, mas cada uma tem um domínio de especificidade que não é fungível nem ontologicamente nem por uma questão de perspectiva. Cada qual contribui para o entendimento de se saber o que se é e quem se é.

Essa necessidade não mudou. Continuamos sem compreender plenamente o que somos e quem somos. Grandes questões seguem apontando para um sinal de interrogação que representa o breu do infinito a que chamamos de "vida". Sabemos, sim, que sabemos mais do que há cem milênios; essa foi a descoberta magnífica da consciência. Ninguém duvidará que evoluímos na profundidade de nossa condição, qual um monólogo que o tempo foi se encarregando em deixar mais e mais consistente. Isso se aplica à religiosidade, que é muito mais do que monólogo monótono. Dos rudimentos mais remotos às elaborações mitológicas, e dessas para o misticismo e o cerne da moralidade, tudo mostra que está intacta a convicção do infinito. O que varia é a intimidade do medo do escuro.

Jornal de Brasília

.: voltar :.