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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Em geral, as pessoas tomam decisões por preferências pessoais. Por simpatia ou por antipatia, por sentimento: porque gostam ou não gostam de alguém ou de algo, fazem ou deixam de fazer isso ou aquilo. Somente depois é que justificarão suas decisões, de maneira mais ou menos manipulada ou absconsa, como uma história contada de trás para frente.

Depende do assunto. Se for uma questão estritamente particular, do tipo "ninguém tem nada a ver com isso" - como optar por comida saudável ou gordurosa -, a atitude dificilmente será justificada, se tanto, por qualquer coisa mais convincente do que um do que um axiomático "porque sim".

Mas, como disse, isso depende muito do assunto, e não só do assunto. Em questões complexas, entram em cena fatores externos que se encontram com as simpatias, ora em acordo, ora em choque, a saber, momento (ou "clima"), circunstâncias e motivações.

Para continuar no exemplo do dilema entre comida saudável e gordurosa, o sujeito pode ser levado a abraçar aquela e não esta alternativa, pelo fato de que foi sua santíssima mãezinha quem preparou determinado prato. Nesse caso, o querer muda de eixo e a simpatia é depositada não na decisão potestativa de comer o que se gosta, e sim iluminada pela vontade de não desagradar a própria mãe - o que em direito se chama "temor reverencial" -, ainda que ao preço de um desejo alimentício contrariado.

Isso é assim porque o sujeito sabe que o desprezo pelo prato o qual não aprecia custará frustração à sua mãe e, assim, remorso a si mesmo. Mas a opção contrária é possível e só o sujeito poderá fazer os cálculos devidos; ninguém por ele: "a experiência ética e intransferível", disse um velho.

Além disso, o sujeito pode não estar plenamente possuído por um "pathos" quando da tomada da decisão. A situação pode lhe ser estranha, e essa falta de familiaridade com o contexto o deixa desprotegido e, digamos, exangue.


Jornal de Brasília

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