Seu navegador nao suporta javascript, mas isso nao afetara sua navegacao nesta pagina MPDFT - Vigência compacta

MPDFT

Menu
<

Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

O mito é o nada que é tudo (F. Pessoa).

Vimos que Tzvetan Todorov acha que um intelectual é um sábio ou um artista "preocupado com o bem público". Para Miguel Reale, o homem apenas culto ou o "simples erudito" tem ciência, mas não sabedoria, salvo quando a transforma em "razão de vida", em "dimensão de seu próprio ser". Cultura, em sentido corrente, é o que resta quando se retiram os andaimes da erudição.

Vejamos a imagem estereotipada do intelectual solitário - por antonomásia, de esquerda, na época em que ainda pegava mal ser esquerdista e rico -, que não se vendeu ao sistema, não sucumbiu ao poder político/econômico e, assim, não abraçou livremente a força da grana e a decadência da corrupção.

A fidelidade à "causa" é por si só prova de dignidade moral, e os sintomas são patentes, são mesmo literalmente modelares. Mora numa casa bonita, bem decorada ou num apartamentozinho recheado de livros, poeira e dívidas? Apartamentozinho. Ótimo. Usa roupas boas, sob medida, novas, ou peças minguadas e puídas? Peças minguadas e puídas. Maravilha. Nada de jantares sofisticados, e sim botecos barulhentos, lotados de intelectualóides febris. Solitários sim, mas misantropia já começa a ser pequeno-burguês demais. É preciso socializar.

Por tudo isso ele deve ser levado a sério. Numa esquina ontológica, num acaso desses das leis da vida, honestidade intelectual e honestidade moral se encontram e se dão um abraço longo e comovente. E o boteco aplaude de pé.

Mas o que é o poeta senão o sujeito que escreve poesia, isto é, que junta palavras com técnica e beleza? Um mau poeta é aquele que não faz isso direito, e um poeta entre aspas ("poeta") é aquele que mal e mal tem domínio de seu ofício - se é que não é um escrevinhador diletante e sem autocrítica, como aquele autor anônimo do "Panegírico de Santa Mônica" (não o do Santo, o do Bruxo).

Em 1979, Vargas Llosa disse que o marxismo é "a escolástica do nosso tempo". Também pode ser, parafraseando Pessoa, o tudo que é nada.

Jornal de Brasília

.: voltar :.