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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

Josef Mengele foi o médico do campo nazista recordista de extermínios da “Solução Final”: Auschwitz-Birkenau. Mas ele só andava com o estetoscópio no pescoço; não exercia nenhuma medicina, não fazia diagnósticos, não curava ninguém. Sua função era eleger deportados dentre os que chegavam, aos montes, oriundos de diversas partes do continente. Sua discricionariedade significava a morte (em câmaras de gás, em questão de dias, horas ou minutos, a depender da lotação momentânea) ou a vida (nas piores condições imagináveis, em trabalhos forçados os mais horripilantes, ou como cobaias involuntárias).

Gêmeos e anões eram poupados. Mengele, homem de instrução (tinha dois diplomas de doutoramento), nutria particular interesse por esses grupos. Com os primeiros, fazia experimentos científicos – ou “científicos”, depois podemos conversar sobre essas aspas – usando substâncias em um mas não no outro e conferindo que diferença faria. Ninguém sabe ao certo o que ele apurou, o material se perdeu, mas nada relevante intelectualmente, afora insuperáveis problemas éticos.

Exemplo notório de gêmea sobrevivente foi Eva Mozes Kor. Exemplo incrível de anões foram os de uma família inteira, os Ovitz, nada menos do que sete, de estatura excepcionalmente baixa. Com os Ovitz, Mengele esfregou as mãos e disse que tinha “trabalho para vinte anos”. Mas a guerra não lhe deu tanto tempo. As torturas duraram alguns meses. As vítimas o chamavam de “Vossa Excelência”.

Há relatos suficientes para se afirmar que Mengele apenas lançava sinais na hora das seleções. Ao nuto ou com o dedo, decidia, esse sim, esse não. Era o juiz supremo dos prisioneiros, ou melhor, o dono, o deus da vida, da liberdade, da integridade corporal, da saúde mental. Era um leviatã poderoso cujas liminares passavam em julgado como um efervescente e nem sonhavam ser objeto de recurso.

Jornal de Brasília - 14/2/2024

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