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Ivaldo Lemos Junior
Procurador de justiça do MPDFT

O ator Scott Glenn, que interpretou Jack Crawford, o policial-chefe do filme “Silêncio dos inocentes”, fez imersão no FBI com um agente chamado John Douglas, a fim de melhor preparar sua atuação. Encerradas as gravações, Glenn foi agradecer Douglas pela ajuda, por ter-lhe permitido “entrar em seu mundo”. Douglas riu e perguntou se Glenn queria mesmo entrar em seu mundo. Então mostrou um áudio com dois criminosos torturando, violentando e matando uma adolescente. O ator não suportou ouvir por mais de um minuto.

A função de promotor de Justiça é próxima da policial. Mas não tanto. Não vivenciamos os perigos dos becos e mesmo a tensão de um saguão noturnal de delegacia, com gente ensaguentada, intoxicada, fedendo, gritando. Na audiência de custódia, um dia depois, e muito mais na audiência de instrução, semanas, meses ou anos depois, as coisas estão bem diferentes. Os ânimos se encontram mais dominados, o volume de voz já não é tão fragoroso, o ar condicionado descontrai os estados de espírito.

Nos gabinetes e no ambiente solene e marmóreo das togas, excelências e data-vênias, há um charme (forjado em grande parte pelo cinema) na função repressiva do Estado que uma delegacia não proporciona nem poderia fazê-lo. E olha que há coisas ainda piores, como o recolhimento de um cadáver putrefato, que não é encaminhado à DP e sim ao IML. Afora o pessoal do serviço legista, todos demais só tomarão conhecimento do corpo por laudos e fotos, e quem sabe não conseguirão reprimir uma reação de nojo.

Os delinquentes mencionados acima ficaram conhecidos como “Tool Box Killers” porque atormentavam suas vítimas com apetrechos como alicates, marretas, picadores de gelo etc. A gravação foi exibida no julgamento. Houve choradeira geral e até vômitos. O promotor do caso, ao contrário do ator do filme, teve de ouvir tudo – e caiu no choro também.

Jornal de Brasília - 10/1/2024

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