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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça

Em Bastardos inglórios, Tarantino traz para a tela personagens que existiram em carne e osso – Hitler, Göring, Goebbels – mas que morreram de modo fictício, queimados em um cinema em Paris, na première de uma fita de propaganda. Na verdade, esses três se mataram na Alemanha, nenhum com fogo. Hitler só esteve na Cidade Luz uma vez, já como Führer, em 1940, e fez um passeio de três horas que não incluiu visita a cinema.

O que o diretor fez não foi uma desonestidade histórica, mas uma brincadeira artística e até moral, como se a vida real merecesse um final feliz ou menos infeliz. Se Hitler tivesse morrido como no filme, e não em 1945, muito menos gente teria morrido também.

Em sua última obra, Era uma vez… em Hollywood, Tarantino novamente manipula eventos reais, com a arte melhorando a vida. Para tanto, enxerta um personagem, vivido por Brad Pitt, um dublê que conhecia o rancho Spahn, que fora cenário de filmes de bangue bangue e pertencia a um homem velho e cego chamado George. Esse senhor fora dominado um tanto alegremente pelo bando de Charles Manson, ou “Família Manson”, que passou a ocupar a propriedade. George recebia atenção de garotas jovens e, em troca, acolhia a “Família” e não interferia em suas atividades e loucuras.

Uma dessas atividades consistiu em matar em uma noite cinco pessoas, incluindo uma garota lindíssima prestes a dar à luz, com requintes extremos de crueldade. No dia seguinte, o grupo matou mais duas, numa sequência que ficou conhecida como Tate-Labianca. Mas, para Tarantino, as atrocidades não aconteceram por interferência do dublê, que não tinha medo de nada e eliminou dois dos facínoras. O terceiro foi carbonizado por Leonardo DiCaprio.

DiCaprio é um ator excelente que interpretava um ator decadente. Quando um ator ruim interpreta um ator ruim não sabemos se seu trabalho é ótimo ou péssimo.

Jornal de Brasília - 16/9/2020

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