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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Vamos pensar na nossa querida presidenta Rouseff. Em 2014, ela foi eleita no segundo turno com 54.501.118 votos. A regra é simples: quem tem mais voto ganha. Para os cargos majoritários (presidente, governador, prefeito e senador) é assim que funciona. Para os proporcionais (deputados e vereadores), entra em cena um certo coeficiente eleitoral, que complica bastante as contas.

Durante a investidura da presidenta, pululou pelo país inteiro uma série de protestos populares e espontâneos (pois não eram comandados por partidos ou grupos políticos e as pessoas não eram pagas, não percebiam vantagens diretas nem tinham vinculação a legendas). A quantidade de participantes era divulgada de diferentes maneiras: pelos organizadores, por institutos de pesquisas e pela Polícia Militar, com resultados muito discrepantes. Por exemplo, no dia 13.3.2016, na gloriosa cidade de São Paulo, os dígitos foram 2,5 milhões, na estimativa dos organizadores, 1,4 milhão, para PM, e 500 mil de acordo com uma empresa chamada Datafolha.

Além de inconsistentes, os dados podem enganar porque talvez cidadãos tenham ido a mais de um protesto, o que seria então computado mais de uma vez. Mesmo que fosse preciso, o volume de todos os manifestantes em todas as manifestações não seria maior que os 54,5 milhões que Rouseff teve. E outra: se as manifestações tivessem atingido um pico de 55 milhões, isso ainda seria inferior, na verdade muito inferior, ao número de cidadãos que oficialmente não votaram na Roussef: 88,3 milhões, dentre os que preferiram o outro candidato, os votos brancos, nulos e abstenções. Quem foi às ruas protestar contra o governo foram o que não votaram nela.

É frágil esse lado prático da democracia, com o princípio da maioria vigorando como um critério regulador. É preciso algo mais do que a matemática. É preciso, é possível e é fácil.

Jornal de Brasília - 17/7/2019

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