Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Imagine um jogo de futebol. Antes de a bola rolar, os atletas se cumprimentam, de maneira protocolar, após a execução do hino. Um ou outro, espontaneamente, abraçam adversários, transparecendo que se conhecem e talvez tenham amizade. Se alguém tiver atuado no passado pelo outro time, irá ter com o treinador, equipe técnica, banco de reservas; torcedores talvez o aplaudam. Os técnicos também se saúdam, às vezes de modo efusivo.

Ao fim da partida, ou ainda no final da primeira etapa, alguns jogadores trocam a camisa entre si. Durante a partida, não é raro que ajudem o rival a se levantar, ou o ajudem se estiver caído no chão, agonizando de câimbra ou de uma pisada em falso.

O que essas demonstrações de cordialidade significam? Absolutamente nada, a não ser que eles se reconhecem como companheiros de profissão, como colegas. Quem veste determinada camisa lutará o quanto puder para defendê-la. Ele o fará se tiver jantado na véspera com um rival ou se sair para beber com ele na mesma noite do jogo. Não há nada de escandaloso nisso porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mesmo que um treinador seja torcedor declarado de um time, ele se esforçará para derrotá-lo, profissionalmente, traindo seu coração. É assim que as coisas funcionam e todos sabem disso.

Se o advogado perceber que juiz e promotor estavam conversando animadamente antes da audiência, ou que saíram juntos na noite anterior, o que isso quer dizer? Absolutamente nada. Juiz e promotor não são amiguinhos que ficam combinando como vão trabalhar nos processos. Eles são pagos por instituições diferentes, um não manda no outro, cada um tem sua função, sua consciência e sua responsabilidade.

Aliás, em termos estatísticos, é mais fácil que o promotor tenha mais amigos na advocacia do que na magistratura. Aqui no DF existem uns 35000 advogados e menos de 400 juízes.

Jornal de Brasília - 26/6/2019

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