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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Qualquer situação comunicativa, mesmo aparentemente a mais corriqueira, pode se transformar em uma teia de desentendimentos e até de conflitos.

O sujeito diz: “eu trabalho dois dias da semana em casa”. O que ele afirmou? Que, dos cinco dias úteis da semana, três ele trabalha no trabalho (na nossa língua, utilizamos a palavra “trabalho ” tanto no sentido da função quanto do lugar onde a exercemos) e dois em sua casa, ou que, dos cinco dias úteis da semana, dois ele trabalha em casa e três ele simplesmente não trabalha?

Se o interlocutor for afobado em sua compreensão, talvez malicioso, chegará à conclusão de que a resposta correta é a segunda. Daí é um pulo chegar à conclusão seguinte, a de que o sujeito é meio vagabundo, uma vez que a “máxima ética orientadora da vida”, na expressão de Max Weber, determina: “é necessário trabalhar”. As pessoas tendem a achar que, se você se encontra no trabalho, mesmo que sem fazer nada no momento, está ocupadíssimo.

Mas, se estiver em casa, ainda que extremamente atarefado, está de papo para o ar. Quando você acorda tarde, é irrelevante saber a que horas foi dormir e o que ficou fazendo. Quando se aposenta, as pessoas perguntam quantos anos você tem e não quantos trabalhou e contribuiu. Voltando ao exemplo inicial, só se sabe objetivamente o que se disse (“eu trabalho dois dias da semana em casa”), não o que se quis dizer e menos ainda o que se quis entender. A literalidade da notícia original pode ser truncada com um aditamento a título de esclarecimento ou retificação que, se não for bem feito, é capaz de deixar a emenda pior do que o soneto. 

Quando um interlocutor não gosta do outro, captura tudo o que este disser de maneira desfavorável, colocando-o na situação mais negativa que conseguir. Pinça, distorce, malda, agride, destrói.

Jornal de Brasília - 24/10/2018

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